14 abril, 2021

Estranho Habitual




                                           (Ilustração: Muhammed Salah)

Faz algum tempo você vem preenchendo espaços em mim que há muito não ousava deixar que alguém entrasse. Você tem feito do meu riso leve, do meu acordar sereno, tem-me feito ficar em paz.

Você me transporta a um lugar onde o caos, os problemas, as decepções e o vazio não existem. Não ali, não naquela fração de tempo mágica em que estamos somente eu e você.

Você me faz bem sem esforço algum, somente por estar ali, por me tirar de mim, me fazer voar, soltar brevemente os pés do chão, mesmo sem querer, mesmo sem saber, ainda que eu não vá te contar, obrigada por tanto! 

Exausta



Foto: Henn Kim


Eu cheguei a um grau de exaustão que me fere. Suas atitudes vem acabando comigo, acabando com as minhas forças, me tirando o sono, a paz e a sanidade. Eu já me questionei quando me tornei esse monstro, já me perguntei porque deixei você me ferir tão fundo assim sem sequer reagir, não entendi como pude me vendar por tanto tempo para te proteger e não enxergar o  mal que fazia a mim, já me culpei por sentir sua falta, mesmo depois de tudo, por simplesmente não conseguir odiar você.

Eu já ouvi que mudei, que estou triste, que meu olhar e minha luz se apagaram um pouco e eu só não tenho mais forças para responder ou questionar ninguém. Eu nunca me senti tão sozinha, tão no breu quanto eu estou me sentindo agora e a culpa é sua. Você me fez perder a esperança na vida, nas pessoas, me fez enxergar um lado do mundo que eu nunca quis ver. 

Uma vez um amigo me disse que me faltava ódio, acho que ele tinha razão, porque mesmo você merecendo muito, eu ainda não consigo te odiar ou desejar o seu mal. Talvez eu aprenda a tirar alguma força disso.

Sigo orando por você, pela sua vida, seguindo o que Deus me pediu pra fazer, mas de uma distância segura, pra que você não me afete assim nunca mais. Essa é a última vez que te escrevo...Espero que você se afaste também.