16 dezembro, 2015

Mãe madrasta


Acredito que nenhuma mulher sonha em começar um namoro e no meio do caminho se deparar com a surpresa de um bebê não planejado; ainda mais se esse bebê for do seu namorado, mas não seu. Ninguém imagina acordar um dia e receber a notícia de que alguém entrará na sua vida para bagunça-la completamente sem se quer  ter sido informada previamente de onde estava se metendo e, só depois de um ano e meio, quando já se apegou suficientemente àquele cara para deixa-lo ir com tanta facilidade, ter de se confrontar com a incerteza do quão pronta está para encarar a responsabilidade que é cuidar de um bebê, principalmente se ele já vem quase falando, tendo o  discernimento minimamente preciso para não te aceitar e ainda ter uma mãe que pode certamente não querer que outra mulher interfira na vida dessa criança. Isso é bem assustador.
 Como se já não bastasse ter de aguentar a imaturidade e falta de bom senso eventual tão frequente nos homens, agora teria de ajudar seu namorado a aprender a cuidar de uma (outra) criança... SOCORRO é a primeira expressão que vem à mente.
E o tempo  passado junto então? O futebol de quinta, de sábado, de domingo, e ainda os jogos e programas esportivos transmitidos pela rádio ou televisão e que ele não deixa de lado, os amigos que (por favor) não podem ser esquecidos e devem sim ser contemplados e vistos, mesmo que com menor frequência. Além de tudo isso agora tem esse serzinho para concorrer com você... como se o tão bendito futebol já não vencesse. Como disputar com um filho? NÃO DÁ!
CHEGA, é o segundo pensamento, "não sou obrigada a aceitar isso, não preciso!"
Mas seria justo agir assim?  Seria correto depois de tudo deixar esse homem - por mais inconsequente que ele tenha sido - logo agora, no momento em que ele mais precisa de você? Acho que não.
Quando se aceita o desafio de ser "madrasta" de alguém, é como se estivessem entregando nas suas mãos a chance de fazer por esse alguém tudo o que você desejou terem feito por você um dia, ou, quem sabe, que façam futuramente para um filho seu. Você aceita o compromisso de amar, cuidar educar - se preciso até reeducar - e aprender a lidar com as especificidades e características únicas daquele bebê que não saiu do seu ventre, mas que precisa enxergar em você uma segunda mãe. É uma missão árdua você ser mãe de alguém que JÁ TEM MÃE,que  já tem um tipo de criação e te faz recuar três vezes antes de dar um passo adiante na hora de dar um sermão, colocar de castigo ou ser incisiva quando necessário, afinal, o que será que vão pensar de você? Será que você tem o direito de se impor como mãe quando está ensinando a ser chamada de tia? E se você der um nó na cabeça da criança? E se ela não te respeitar ou não gostar de você? Você não quer frustra-la, mas também não quer se decepcionar. Você aceitou a batalha e deve honra-la, pois foi assim que te ensinaram a ser.
Ser madrasta é virar mãe estagiária, que presta suporte ao gestor na execução das tarefas (e todos sabemos o quão sofrida é a vida de um estagiário) e aprende em meio a muitos erros a ser tia, mãe, amiga, bicho papão, lobo mal, dançarina, palhaça, cavalinho, cantora (com vasto repertório musical em torno de temas mirins) e atriz, encenando os mais diversos papéis. Ser madrasta é ser paciente, é mudar sem que se dê conta os seus pensamentos, incluindo em tudo que se faça esse pequeno ou essa pequena, é ir ao shopping e só olhar o que cairia bem ou o que ele ou ela gostaria, ir ao mercado e pensar se está faltando alguma coisa no armário para esta criança, ir ao parque e imaginar o quão bom seria te-la ali correndo. Ser madrasta é se pegar falando "retardadamente", imitando o modo fofo daquele serzinho aprendendo a pronunciar suas primeiras palavras, é se deparar com uma risada espontânea ao lembrar de alguma gracinha feita ou de um novo aprendizado. É não caber em si de alegria a cada dia de visita e sentir o coração apertado a cada entrega após o encerramento do final de semana. É aguentar firme com a criança no colo mesmo que ela já esteja pesada, suportar o cheiro do cocô (mas dar graças à Deus por poder correr para o pai e falar "toma que o filho é teu"), é dar banho, acordar à noite, trocar fralda, sair carregando quinhentas mil coisas a cada passeio, se sentir exausta e ainda sorrir só de olhar para a cara daquele pequeno ou daquela pequena que olha só, você até se esqueceu que não é seu.
No fim das contas, você agradece à Deus por todas as mudanças e todos os ensinamentos e alegrias que esta reviravolta trouxe. Você percebe que ser madrasta é acima de tudo ser criança, mulher, namorada e mãe, sem deixar de ser madrasta... ou melhor, "tiadrasta".

20 novembro, 2015

Wish you were here

Não é que eu não tenha seguido em frente, é que alguns dias são mais difíceis de aguentar sem você aqui!

Estou com saudade!

26 maio, 2015

Quinta década


Hoje acordei bem, feliz até. Me preocupei inteiramente com a prova que teria na faculdade e que já tencionava todos os meus músculos, não me deixando muito espaço para outros pensamentos. Confesso que isso me surpreendeu, já que dias antes a tristeza de lembrar que seu aniversário se aproximava me tomara quase que por inteiro em alguns momentos. Mas hoje não foi assim. Ou ao menos não estava sendo...
Em alguma parte do percurso entre a nossa casa e a faculdade a sua lembrança disse um "oi" e decidiu que era hora de entrar em ação. Só acho que você deveria escolher momentos mais oportunos para aparecer, no meio da consecução de uma prova ou em um dia como hoje é o cúmulo da falta de bom senso! Aliás falando em bom senso, já falei o quão egoísta foi falecer quase um mês depois do seu aniversário? É como intensificar e prolongar uma dor que já não é pequena.
Ontem antes da missa me peguei lembrando sobre as risadas que a mãe deu ao contar da sua confusão com o dia do seu aniversário: você jurava um dia antes da data já ser sua comemoração e que todos tínhamos esquecido. Me recordo também que ela já planejava sua festa deste ano e que chegou a comentar com você - que pra variar foi só um pouco grosso ao dizer que não queria comemorações. Rhum, como se não se derretesse quando comprávamos mesmo que só um bolinho para você e comemorávamos entre nós.
O problema é que nada ocorreu como o planejado e que as coisas não serão mais assim. Não por que você não está aqui e eu não tenho para quem dar parabéns amanhã. Não por que eu não tenho com quem estar brigada e fingir não dar tanta importância. E finalmente, não por que nunca mais vou poder te abraçar ou poder dizer pessoalmente o quanto eu te amo e que você é sim e sempre será uma parte consubstancial de mim.
Amanhã, 26/05/2015 seria seu aniversário pai, sua quinta década. E só em pensar que nem nessa, nem nas próximas que virão o terei aqui para podermos comemorar, é como se fortes estocadas de faca penetrassem meu peito fazendo um estrago irreparável.
Me sinto mais forte agora. Aprendi a duras penas a disfarçar os dias de tristeza e ver sempre algo de bom em tudo isso. Estou conseguindo aos pouquinhos, acho um dia alcanço a meta do 100% ok.
Continuo te amando - e isso é para sempre -, talvez até mais do que antes, sei lá. Tudo se tornou mais profundo depois que você partiu. Amadureci e aprendi demais com a sua perda (obrigada por isso), no entanto trocaria todo o conhecimento absorvido para poder te ter aqui.
Mas enfim, FELIZ ANIVERSÁRIO PAI, e que de onde estiver, comemore e fique bem!

Saudades eterna meu ranzinza preferido!!